Invasão da Ucrania afeta Brasil e plano eleitoral de Bolsonaro.



 

 

Região onde ocorre o conflito entre russos e ucranianos é a maior fornecedora de fertilizante químico para o Brasil

O avanço das tropas russas sobre o território ucraniano, que já deixou ao menos 57 mortos e outros 169 feridos desde a madrugada dessa quinta-feira (24/2), horário de Brasília, sinaliza consequências econômicas para o Brasil. Os preços do petróleo e do trigo registram alta no mercado internacional, o que fará com que os brasileiros paguem ainda mais caro pela gasolina e pelo pão, por exemplo.

A importação de fertilizantes – fundamental para a produção agrícola do país – e de tecnologias também poderá ser afetada, e o governo federal terá de se mexer em busca de alternativas, caso as sanções norte-americanas e europeias estrangulem o fornecimento.

 

Em última instância, tudo isso poderá gerar reflexos nos planos do presidente Jair Bolsonaro (PL) para as eleições de 2022, avaliam especialistas ouvidos pelo Metrópoles. O chefe do Executivo federal pode não se posicionar publicamente sobre a guerra declarada pelo aliado russo Vladimir Putin, a quem manifestou solidariedade na semana passada, mas a potencial elevação dos preços no mercado ameaça ter impacto direto sobre o bom humor dos eleitores.

A invasão da Rússia na Ucrânia ocorreu na madrugada desta quinta-feira (24/2), horário de Brasília. Logo em seguida, as sirenes da capital Kiev começaram a tocar. O som foi o primeiro alerta de um possível ataque aéreo na regiãoReprodução

 

Imagem mostra o momento em que míssil atinge região de Kiev-Metrópoles

Após sucessivos bombardeios, o país tenta, junto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), negociar uma área de cessar-fogoGabinete do Presidente da Ucrânia

 

Tanques militares russos e veículos blindados -Metrópoles

Tanques militares russos e veículos blindados avançaram em Donetsk, Ucrânia, região que teve a independência russa reconhecida nos últimos diasFoto de Stringer/Agência Anadolu via Getty Images

 

Tanques ucranianos são vistos em cidade da região após o ataque russo -Metrópoles

As autoridades de segurança ucranianas garantem que há combates em quase todo o território e que os confrontos militares são intensos. Segundo o governo ucraniano, já passam de 200 os ataques russos no paísFoto de Wolfgang Schwan/Agência Anadolu via Getty Images

 

Tanques ucranianos são vistos em cidade da região após o ataque russo. Na foto, militares observam veículos militares seguirem por caminho de terra -Metrópoles

Os militares da Ucrânia afirmaram que destruíram quatro tanques russos em uma estrada perto da cidade de Kharkiv, no leste do país, e mataram 50 soldados dos inimigos na região de Luhansk Foto de Oliver Dietze/picture Alliance via Getty Images

 

Rebeldes disparam mísseis em cidade russa. Numa floresta de gelo, são vistos lança mísseis em atividade e o rastro de fogo no céu claro -Metrópoles

A imprensa russa informou que membros de uma milícia em Donetsk, uma das regiões separatistas da Ucrânia, estão prontos para apoiar a invasãoPierre Crom/Getty Images

 

Na imagem um avião russo aparece caído no chão-Metrópoles

Segundo a agência de notícias Reuters, militares ucranianos afirmam ter abatido cinco aviões russos, além de um helicóptero, na região de Luhansk, um dos dois territórios separatistas da UcrâniaFoto do Ministério do Interior da Ucrânia/Divulgação/Agência Anadolu via Getty Images

 

Ucranianos saem de trens carregando malas-Metrópoles

Diante do ataque russo, cidadãos ucranianos deixaram as suas casas, localizadas em zonas de conflito, e recorreram aos trensOmar Marques/Getty Images

 

Ucranianos formam multidão para pegar ônibus-Metrópoles

Pessoas também esperam ônibus em rodoviária na tentativa de deixar Kiev, a capital da Ucrânia Pierre Crom/Getty Images

 

Na imagem aparece uma rodovia da Ucrânia com engarrafamento-Metrópoles

Habitantes de Kiev deixaram a cidade após ataques de mísseis pré-ofensivos das forças armadas russas e da BielorrússiaPierre Crom/Getty Images

 

Foto mostra os pés e armas de dois soldados russos levados prisioneiro perto de Kiev, pela Ucrânia após a operação militar da Rússia na Ucrânia. Espalhadas no chão estão armas brancas, cartuchos e fuzis AEK-971 - Met

Dois soldados russos foram levados como prisioneiros pela Ucrânia após a operação militar da RússiaGetty Images

 

Estrutura danificada no centro da cidade de Kiev-Metrópoles

Estrutura ficou danificada após ataque de mísseis em KievChris McGrath/Getty Images

 

Foguete russo em teto de residência-Metrópoles

Um foguete foi registrado dentro de um apartamento após bombardeio de tropas russas em Piatykhatky, Kharkiv, nordeste da UcrâniaFuture Publishing via Getty Images

 

 

Pessoas se manifestam contra o ataque russo à Ucrânia com, entre outras coisas, um cartaz que diz

Ao redor do mundo, várias pessoas se manifestam contra o ataque russo à Ucrânia. "Pare a guerra", escreveu mulher em cartaz durante manifestação em frente ao Portão de Brandemburgo, na AlemanhaKay Nietfeld/picture aliança via Getty Images

 

Base Aérea dos EUA em Ramstein. Após a escalada do conflito na Ucrânia, os movimentos de aeronaves na base da Força Aérea dos EUA aumentaram significativamente-Metrópoles

A quantidade de aeronaves na base da Força Aérea dos EUA, na Alemanha, aumentou significativamente após os ataques russos na Ucrânia Boris Roessler/picture Alliance via Getty Images

 

Imagem mostra o momento em que míssil atinge região de Kiev-Metrópoles

A invasão da Rússia na Ucrânia ocorreu na madrugada desta quinta-feira (24/2), horário de Brasília. Logo em seguida, as sirenes da capital Kiev começaram a tocar. O som foi o primeiro alerta de um possível ataque aéreo na regiãoReprodução

 

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Hoje, a Rússia é o sexto país que mais vende ao Brasil. Somente em 2021, importamos cerca de US$ 4,1 bilhões da nação comandada por Vladimir Putin. Mais da metade (62%) das importações são adubos ou fertilizantes químicos, o que faz do país o maior fornecedor do produto ao Brasil. Os dados foram levantados pela reportagem do Metrópoles com base na plataforma Comex Stat, do Ministério da Economia.

 

“O Brasil importa daquela região, não só da Rússia, mas também da própria Ucrânia e da Bielorrússia, muito fertilizante, que é muito importante para a recomposição de terra e o aumento de produção no Brasil. Então, se as sanções econômicas adotadas pelos Estados Unidos e pela Europa afetarem, por exemplo, as transações bancárias, os mecanismos de financiamento e de pagamento operacional contra a Rússia, isso pode dificultar a importação daquela região e afetar o abastecimento brasileiro, mesmo o Brasil tendo outras fontes”, explica o estrategista-chefe do banco Ourinvest e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral.

 

“O que isso pode implicar para o Brasil é a dificuldade de encontrar imediatamente fertilizantes, ou até uma postergação de exportações ou de preços mais altos”, acrescenta. O Brasil também tem um histórico de cooperação com a Rússia em ciência, tecnologia e inovação, o que, do mesmo modo, poderá ser afetado, segundo Barral, a depender das sanções.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), admitiu estar preocupada com a situação. Nessa quinta-feira, ela afirmou que a pasta tem monitorado a ofensiva da Rússia contra a Ucrânia e avaliado alternativas, caso as importações da Rússia sejam inviabilizadas.

 

“Tem que ter muito cuidado com isso. O Brasil não importa só desse país. É um importador de fertilizantes de vários países. Temos outras alternativas para substituir, se tivermos problemas”, afirmou ela.

As tensões entre Ucrânia e Rússia também devem impactar no preço dos combustíveis no Brasil. Na manhã dessa quinta-feira, o valor do barril de petróleo Brent alcançou US$ 105 pela primeira vez desde setembro de 2014, e as projeções realizadas por especialistas indicam que esse valor pode atingir os US$ 120 até o fim de fevereiro.

 

A Petrobras informou avaliar os impactos do conflito no país. Economistas consultados pelo Metrópoles analisam a situação e antecipam que, caso persista a conjuntura de alta do dólar e do barril de petróleo, inexoravelmente o preço da gasolina sofrerá reajuste no país.

 

“O cenário é muito ruim para a economia global e péssimo para a brasileira, que está ainda se recuperando da pandemia de Covid. A Rússia é um grande produtor de petróleo e gás natural e, com a política de preços da Petrobras, que acompanha o valor internacional, vai pressionar ainda mais o valor dos combustíveis no Brasil, além de todo processo produtivo”, explica Renato Ribeiro de Almeida, doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). “A Ucrânia e a Rússia também são grandes produtores de trigo, então, naturalmente, vamos ter um aumento do valor do pão e da massa”, diz.

 

Eleições 2022

Mas a conta não vai pesar só para o bolso dos brasileiros. A investida russa também poderá trazer consequências para o presidente Jair Bolsonaro. Ao se encontrar com o presidente Putin, no último dia 16, o chefe do Executivo federal afirmou que o Brasil é “solidário” ao país. “Estou muito feliz e honrado por este convite. Somos solidários à Rússia. Queremos muito colaborar em várias áreas. Defesa, petróleo e gás, agricultura. As reuniões estão acontecendo. Tenho certeza de que esta passagem por aqui é um retrato para o mundo que nós podemos crescer muito nas nossas relações bilaterais”, disse Bolsonaro, sem, no entanto, fazer menção pública à tensão na região da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, no Leste Europeu.

 

Pouco depois, ele tentou amenizar o estrago, dizendo que se solidarizava com quem busca a paz.