BODE EXPIATÓRIO:

O paranaense Natan Donadon, 46, está em seu terceiro mandato como deputado federal, mas sempre pertenceu ao chamado "baixo clero".
A modesta carreira contrasta com o fato de, desde 28 de junho, ser o primeiro congressista-presidiário pós-ditadura militar. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 13 anos, ele deve ficar em regime fechado pelo menos até setembro de 2015.
Sua condenação se deu sob a acusação de ter desviado R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia por meio de contratos de publicidade fraudulentos. Seus advogados tentarão diminuir a pena em um processo de revisão criminal.
"Houve violação ao princípio da isonomia. Acusados pelos mesmos crimes foram condenados a penas muito menores", afirma um dos advogados, Nabor Bulhões.
A mulher de Donadon, Rosângela, pede que a justiça seja feita. "Como estavam ouvindo as vozes das ruas, como tinham que dar uma resposta à sociedade, pegaram ele como bode expiatório. O processo do mensalão não teve nenhum condenado com uma pena dessa [na verdade,cinco réus do mensalão tiveram pena superior], daí já se vê o disparate", diz ela, que o visita todas as quartas.
Rosângela nega que ele tenha se abatido e diz que o deputado, que é evangélico, passa o tempo lendo a Bíblia e o livro "Deus Trabalha no Turno da Noite", do pastor da Igreja Quadrangular Ron Mehl (1944-2003), que traz mensagens de conforto.
Congressistas afirmaram ter ouvido relatos de que presos de celas vizinhas têm submetido Donadon a terrorismo psicológico, gritando ameaças, o que a mulher e a defesa dizem não ter ouvido dele.
O congressista não tem recebido visitas de políticos, foi expulso do PMDB, teve cortados o salário de R$ 26,7 mil, as verbas e os funcionários.
As portas do gabinete 239, onde ainda está a placa com seu nome e a bandeira de Rondônia, ficam trancadas.
Até os ex-aliados dizem que ele será cassado ainda neste mês. Diante desse clima, seu suplente, o ex-ministro Amir Lando (PMDB-RO), foi à Câmara há algumas semanas tentar assumir de uma vez a vaga. Foi convencido a esperar a cassação do colega.
Faltas
Para Natan Donadon ser cassado, será preciso o voto de ao menos 257 de seus 512 colegas deputados.
Caso a cassação não ocorra nessa fase, a Câmara irá tirar seu mandato por faltas --a Constituição prevê essa medida quando as ausências superam um terço das sessões do ano. Ele já faltou em 15,8%.
Com isso, Donadon deve ser o 18º deputado a ter o mandato retirado pelo plenário da Câmara desde a Constituição de 88 --na lista está, por exemplo, o ex-ministro José Dirceu (PT), condenado no mensalão.

Fonte: Folha de São Paulo