O disfarce perfeito: estelionatária mudava de aparência para aplicar golpes

 Correio24horas


“Sei lá, nem lembro mais. Uns 30”, disse rindo Valdete Costa de Oliveira, referindo-se a sua própria idade real. Ela pode, por exemplo, ter 28 anos e se chamar Zélia da Conceição, se depender de uma das várias carteiras de identidade que apresentou  em instituições financeiras, lojas e outros estabelecimentos. 

A estelionatária foi presa na noite de segunda-feira, após a prisão de outros quatro comparsas, identificados como Elza Gomes Ferreira, Reginita Brito Rego, André Luís Karitas Freitas Silva e Jean Figueiredo Arraes Silva Rodrigues. Eles ainda passarão por identificação criminal no Departamento de Polícia Técnica. 
Seja loira ou morena, Valdete Costa de Oliveira ri na delegacia e diz que não sabe ao certo nem a própria idade (Foto: Reprodução)Seja loira ou morena, Valdete Costa de Oliveira ri na delegacia e diz que não sabe ao certo nem a própria idade - Foto: Reprodução

Segundo a delegada Maria Dail, titular da 6ª Delegacia, em Brotas, o próximo plano da quadrilha era um golpe num banco, pegando um empréstimo de R$ 200 mil. “Ainda estamos investigando, mas pode ser de uma agência da Caixa Econômica”, disse. 


Valdete riu na delegacia e disse não ter certeza da própria idade
A delegada estima que o grupo, que usava documentos falsos para pegar empréstimos, fazer financiamentos de veículos e compras, deu um prejuízo de cerca de R$ 200 mil em instituições diversas.  

Valdete é apontada pela polícia como líder da quadrilha e foi localizada no estacionamento do supermercado Extra, na avenida Vasco da Gama atraída por uma ligação de André Luís, que já havia sido preso junto com Elza e Reginita no apartamento alugado pelas duas no Residencial Vila dos Pássaros, no Imbuí. 
Segundo a delegada Maria Dail, tanto este imóvel, quanto o apartamento de Valdete, na Rua da Gratidão, em Piatã, foram locados com documentos falsos. Em Piatã, foi preso Jean, namorado de Valdete. 


André, Jean, Reginita, Valdete e Elza foram presos com centenas de documentos falsos
 
Prostituição 
Os 30 anos que ela acha ter agora, é a mesma idade que ela tinha quando foi presa em novembro de 2011, também por estelionato. Ela muda o visual como muda de nome e idade: na época, tinha os cabelos compridos e loiros, bem diferentes de agora, curtos e escuros. 

Para compor a personagem da época, ela tinha também Citröen Air Cross na garagem de sua casa no Rio Vermelho. Ali, Valdete mantinha uma casa de prostituição, fazendo programas e agenciando outras mulheres. 

Em dois quartos da casa foram encontrados preservativos, lubrificantes, vibradores e fantasias eróticas. Além do material, a polícia encontrou no local 30 documentos falsificados. O carro novo estava em nome de outra pessoa e também foi comprado com documentação falsa. 

Além de Valdete, na casa – que ela dizia ser uma pousada de sua propriedade - estavam  duas mulheres que afirmaram trabalhar como garotas de programa, só que em uma boate. 

Em 2011, a polícia chegou até a golpista a partir de denúncias de São Paulo. Coincidentemente, a denúncia também veio de fora desta vez: policiais de Goiânia deram a pista da quadrilha. Segundo a delegada Maria Dail, as investigações começaram há cerca de dois meses. 

Valdete se refere hoje à casa como “a pousada”. Em 2011, ela já tinha confessado que alugou de “um gringo”. Na garagem do apartamento da estelionatária, em Piatã, foram encontrados dois carros: um Jac Motors J2 laranja, de placa PGJ-7004, em nome de Caroline Ribeiro de Oliveira, e um VW Spacecross prata de placa PEM – 0134, em nome de Jaciara da Silva Vidal. 
Os dois carros têm placa de Recife, onde a quadrilha também vinha atuando, segundo a polícia. Em depoimento, Valdete disse que o carro foi financiado como parte do pagamento de R$ 40 mil que deveria fazer ao namorado da comparsa Elza. A quem duvida, ela esbanja: “Um outro já me emprestou R$ 300 (mil)”.  

Valdete contou à polícia que o homem, identificado pelo prenome de Renato, estava pressionando e ameaçando sua família em busca do dinheiro. Até a noite de ontem, ele não havia sido localizado pela polícia, mas, segundo a criminosa, vive em Itapuã. “Os nomes usados nos documentos dos carros, foi Renato que criou”, disse Valdete, afirmando que o namorado de Elza vive de golpes. 

A delegada afirma que a quadrilha pode ter outros integrantes. Além dos documentos com fotos dos cinco presos, há documentos com fotos de outras pessoas, além de retratos 3x4 ainda sem utilização.

Segundo Maria Dail, na tarde de ontem, Valdete deixou uma mala com documentos, num quarto de um hotel em Brotas, para duas pessoas irem buscar. A polícia ainda suspeita que funcionários dos estabelecimentos lesados podem ter participação no esquema de fraudes. 

“É preciso, por exemplo, ter alguém pra confirmar que o golpista trabalha no local do contracheque falso”, explicou a delegada.


Mulheres faziam compras com cartões falsificados
De acordo com a delegada Maria Dail, o grupo  fabricava documentos falsos para subsidiar pedidos de empréstimos a bancos e financeiras, financiar a compra de veículos e realizar compras. Estima-se, até o momento, um dano de pelo menos R$ 200 mil. 

“As mulheres iam fazer as compras com os homens para dar credibilidade, passar uma imagem de família, de pessoas honestas”, contou a delegada. No apartamento de Elza e Reginita, no Imbuí, e na residência de Valdete, em Piatã, foram apreendidos centenas de carteiras de identidade - incluindo algumas em branco -, carteiras de habilitação, cartões de crédito - na carteira de Jean havia dez, em nomes de pessoas diferentes -, cheques e carteiras de trabalho. 

Além desses documentos, contracheques do Ministério da Defesa, de uma pensionista do governo do Distrito Federal e até mesmo um em nome de um tenente-coronel da Aeronáutica, foram encontrados com a quadrilha. Havia também carteiras de registro profissional de Administração, Odontologia e Arquitetura. Além dos documentos, os policiais apreenderam máquinas utilizadas para plastificação das carteiras, impressoras e computadores portáteis. 

Os investigadores ainda estão apurando a extensão dos prejuízos causados pelo grupo, além da participação de outras pessoas. Já se sabe que eles tinham uma ligação também em Brasília, que já está sendo investigada.